sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um ano, quem diria!

Certa feita, Mário Quintana afirmou em uma das suas obras que “quem faz um poema abre uma janela (...) salva um afogado”. Em um ano inteiro de expor meus sentimentos em uma página virtual – fato jamais imaginado por minha mentalidade obsoleta e antiquada – preenchida com poemas, prosas e textos os quais confundiam tais denominações, não abri janelas, destranquei imensas portas as quais periodicamente me libertavam de angústias já tão enraizadas no peito, e por ora me acolhiam em celebrações de alegres momentos também vividos. Descrever sentimentos, no prisma dos sentidos – sinestésico – tornou-se uma atividade rotineira, e tal tarefa não obteria tanto êxito se você, caro leitor, não acompanhasse postagem por postagem meus controversos desabafos.

Agradeço a todos os leitores da Sinestesia, deixando minha sincera gratidão pelo 1º  aniversário do “sinestesicamente falando”!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Apenas agora, pois, dei-me merecido tempo para dar as costas à tantas projeções exigidas sobre mim e fiz meu ritual que há tempos atrás o fazia com maior frequência. Mirei o ontem. o anteontem. o ano inteiro. Por mais que tentasse enganar a minha consciência, vendar os olhos, meu coração já sussurrava as notórias diferenças desta reflexão quanto às muitas outras. Em meses atrás, os deliciosos momentos em que me reportava às peripécias compartilhadas com aqueles os quais tanto me importo - meus amigos do colegial - soavam melodiosas, abraçavam-me afetuosamente e eu dava-lhes toda assistência como quem recebe visita tão presunçosa! E ria só, gargalhava até, pouco caso fazia dos incompreendidos que encaravam-me nas ruas ao me ver mostrando os dentes em plena recordação, taxavam-me como esquizofrênico, capaz. Todavia, desta vez, um desconforto tomava posse das minhas lembranças, que mais vivas do que nunca, ressaltavam a me despertar o final do ciclo que a de vir. A ampulheta escorre os últimos grãos do ensino médio e o receio ao afrouxamento do laço tão edificado vem a tona. Antes, boas lembranças acompanhavam a certeza da permanência diária no ano seguinte. Mas e agora? Em meio a insegurança presente, pude apenas me recordar mais e mais, remeter-me  profundamente dos simples aos mais preciosos encontros, e pude dar conta da imensidão do meu sentimento a amigos os quais jamais a vida me dará em todo seu curso, percebi então que a sólida relação, apesar da certa distância a nos esperar, somente tomará amadurecimento, uma nova fórmula, a qual a saudade apenas crescerá a vontade de revê-los nos reencontros que faremos questão de realizá-los, riremos das bobagens feitas por nós mesmos e daremos acordes à nossa ciranda. E de tanto fitar passado e presente vivos, desmoronou-se a insegurança de perdê-los. Ao contrário, notei que nunca me senti tão amado, tão querido, que definitivamente faculdade, emprego e falta de tempo são detalhes comparados à nossa afetividade. Depois de tamanhas reflexões, enxuguei a tímida umidez no canto dos olhos e voltei às minhas atividades, com uma certeza a mais no meu coração.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Passando a régua




     Fazendo um ligeiro flashback em meus pensamentos sobre a 'melhor turma de 3º ano do ano de 2011 de colégio são lázaro', fui pondo cautelosamente os prós e os contras da convivência diária numa balança que eu mesmo a denominei de "valeu-a-pena-ou-não-nômetro". Os bons e construtivos momentos adquiridos na particularidade de cada grupo, na relação existente entre as vulgarmente chamadas 'panelinhas', as quais se confundiam numa interrelação caótica e desmanchavam-se a nossos olhos no decorrer do tempo; e as mais variadas gargalhadas dadas durante o ano letivo, atribuídas a piadas infames, ora direcionadas a toc's terríveis dos nossos mestres, ora quando Ravel abria a boca durante alguma aula meio chata. Para o outro lado da balança, ficaram as corriqueiras e tão comentadas desavenças presentes historicamente em nossa turma: mágoas, discussões, acusações de 'falsidade' - palavra tão pronunciada! - e mais diversos descasos sendo ninguém além de nós mesmos os próprios autores de tamanhas calamidades. Pesei os dois lados e decidi que não. Não podemos sair dessa sala com recordações mesquinhas de sentimentos de rancor e "disse me disse", não do Terceirão 2011 que tanto conheço! A sala que já em anos anteriores puljava brilho e criatividade nas feiras culturais, sempre recebendo os melhores elogios do publico, não da turma que liderou e venceu o desempate da Gincana do Junião, não de nós, todos nós que contagiamos nossos professores com um carisma sem igual, definitivamente, as boas recordações mais que sobressaem, me fazem esquecer  os problemas sofridos por  surtos de desunião ou rivalidade. Essas -recordações- quando vindas a tona, 'jogam em nossa cara' que não somos uma sala como qualquer outra, muito menos podemos nos despedir com esse pensamento. Convenhamos, uma turma que contém um bife, um rato, um Mister M, um peixe que às vezes é cachorro, um inferno em pessoa, um alcoólatra, um jogador do vitória e até mesmo uma ” %#@%&#@” em pessoa  está muito longe de ser uma turma padrão; e somos orgulhosos de desabarmos tabus de 'responsabilidade e compromisso' tão exigidos pela nossa idade. Eu lanço o desafio para vocês também.  Observem o quanto nós aprendemos aqui, nesse ‘metro’ quadrado. Independente de quem entrou esse ano, ano passado, ou até mesmo quem veio da maternidade pra cá, todos vamos levar para o mundo lá fora experiências inapagáveis, e quando olharmos para trás, quando nos reportarmos ao nosso colegial e principalmente ao seu ultimo ano, serão esses momentos que lhe virão a mente, desavenças serão detalhes pequeníssimos, nem preciso ser vidente para tal diagnóstico. Agradeço do fundo do meu coração a cada um de vocês que me fizeram ser quem sou hoje, e podem ter a absoluta certeza que os levarei aonde estiver.
Muitíssimo Grato dos pequenos aos exorbitantes gestos de carinho e respeito,
Rodrigo Mota

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ansiedade e soneto

Crepita o árduo coração carente,
Sente o sabor da sutil ausência,
Cresce o desejo de vê-la novamente,
Supura pavor e tristeza indesejada.

Caminha ponteiro ocioso, displicente
Vede minha ânsia, acelere as horas!
Não vê meus pulsos vibrarem ferozmente, 
Nem mesmo a dor inflamando cóleras.

Enxergo-a refletindo raios do Sol de longe,
Será verídica a imagem intermitente,
Ou confundo-te com orquídeas do horizonte?

Encerra-se a aflição, cessa e o coração palpita,
Com veste esplendente tu chegaras e sorriras,
Acolho-te – longo beijo – e venero a doce vida.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Parnaso romance

Artefato perfeito,
Obra divina, quem a poliu?
Benditas mãos que seus moldes fincaram
Reluz sensual e frágil sua fronte,
Escorre volúpia de suas curvas, doce fonte,
Provo seu mel e vou tragando poesia,
Combinação de insensatez e nostalgia,
Esculpida é certeira a cadência de longe.

sábado, 16 de julho de 2011

Desfecho

    Abracei com força na espera de um sinal, ansioso por um gesto que respondesse a ao menos metade das minhas interrogações. Apesar de receoso em parecer deveras entregue, ainda fui capaz de apertar com mais intensidade; e a procura por uma resposta tomou um rumo desesperador, ardia o meu peito hibrido pela esperança que ainda restava e pela dor da sua ausente reação a minha manifestação amorosa. Afastei minha face para deixá-la paralela a lucidez do seu rosto, mirei os seus olhos, apertei os meus como detetive em dedução final, juiz que procura evidências do crime ou mesmo prestes a inocentar sua ré. Nem provas, nem papéis, nem testemunhas que me levasse a qualquer conclusão. Seus olhares nada transmitiam, somente provocavam ainda mais a minha inquietação, as pupilas vazias que a mim encaravam apenas multiplicavam minhas dúvidas; e enquanto para ela eu era incêndio, nem fagulha ela parecia ser para mim, em tais condições. Continuei a arriscar, atritei suavemente meu rosto em sua epiderme, até que ela fosse capaz de fechar os olhos e deixar a boca flácida. Confuso com sua primeira reação, satisfeito com sua atitude e sentindo a gostosa sincronia de nossas ofegantes respirações, pressionei  meus lábios em sua boca, e fui, agora sem o receio de não ser correspondido. Antes não tivesse me atrevido a tanto; se eram dúvidas que eu colecionava em meu interior, seus esclarecimentos vieram a tona. Enquanto me dedicava em apresentar por ósculos a dimensão de meus sentimentos, recebi apenas educadas correspondências gestuais, sua língua tocava a minha de forma meramente mecânica e suas mãos gélidas seguraram meu braço como em repulsa. Compreendi o seu recado e me afastei, lenta e dolorosamente pela reciprocidade fracassada. Fechei os olhos e respirei fundo. Não me encorajei a encarar novamente seus olhares, sabia que dessa vez eles iriam me dizer o que concluí há segundos atrás, imaginei a provável leitura que faria da sua retina e isso me bastou. Dei as costas e fui andando a passos lentos, numa teimosa súplica do meu corpo em regressar, no silencioso pedido do meu coração de a ouvir me chamando de volta, mas ela não o fez. Misturei-me com a multidão no vaivém da rua e desisti de aguardar sua manifestação, guardando em meu íntimo a ultima lembrança de sua presença, eternizando nosso último contato nos vagões da minha memória.

sábado, 28 de maio de 2011

Presente ausência

   Em tédio por mais uma vez cultuar a rotina, debruçado na carteira e a espera de mais fadigosas aulas, sou tomado pela sua voz a me chamar, timbre suave, brisando doce em meus ouvidos. Apesar de reconhecer a improbabilidade de sua próxima presença, arrisquei fitar meus arredores. Ninguém. Sinto levemente seu perfume a exalar – como não esquecê-lo? – dançando como em ultima performance sobre a atmosfera da sala e atingindo meus pulmões em cheio. Creio estar delirando, mas sensata é a certeza de quem pertence tal odor e voz. Fechei os olhos e sua imagem foi projetada minuciosamente, quase que proposital. Seus fios dourados harmoniosos com o vento, fazendo par com seus olhares de mar em turbulência, por onde afogo-me sem datar meu regresso; o teu semblante, áureo, transfigurando-se em um patamar angelical –anjo meu- e seu sorriso que convida meus lábios a sentir o seu sabor. Perdi a direção de meus olhares ante tanta beleza como perco-me na tentativa de passar para o papel o que a mente (ou o coração, talvez) foi capaz de enxergar. Abri os olhos e fui dominado pelo  tamanho desejo de rever-te novamente, contudo não em esquinas da minha memória, mas sendo capaz de cercar teu corpo com meus braços. Diante de tão rápidas seqüências de sensações, inebriado por sua visita (mesmo que meramente psicológica), me dou conta de que não pode ser apenas atração. Está além do meu alcance, deixei sem perceber que a maré dos teus olhos me levassem a dimensões inabitáveis e o que mais me assusta a respeito é que acabo achando tudo isso bom. Muito bom.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Transfiguração

Espremo o que há em meu peito até o bagaço,
Deixo escorrer toda poupa secretada entre pulmões,
Retiro cautelosamente toda dor, como cirurgia,
Raspo as pregas enraizadas, custosas a sair, em agonia
E sinto fluir tórax abaixo o rubro suco,
Serpenteando pelo corpo, espalhando-se no solo.
Quando atentei a poça que no chão havia,
O que deixei derramar,
Palavras.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Improváveis percepções

    Exatamente quando foi desapontado mais uma vez pelo amor. Quando olhou para trás e se reportou de promessas cobertas de indignação e rancor, em que a alma decidiu que jamais renderia-se a outrem novamente, para mais tarde a mesma com tamanha teimosia não resistir a tentação de uma nova entrega. O espírito sempre banca o cético, seu problema é nunca conseguir fechar os olhos para desejos da carne e caprichos do coração. Mais uma vez, lançou voo o coração sem rumo, sedento de desbravar o inalcançável horizonte. Mais uma vez, aterrissou espatifando sangue e lamúria no íngreme solo. E transbordou com raiva os mesmos resmungos de tempos atrás, botou pra fora a decepção de encontrar o orgulho no lixo, descontente de trair a si mesmo em função de um sentimento estúpido, traiçoeiro [qual mais seria?]. Nesse exato momento, o qual os juramentos de desapego foram repetidos com mais devoção – quase como profecia – onde sem bússola e em noite neblinosa ele deparava-se nos caudalosos mares da rotina, justamente quando se acostumava em satisfazer seu instinto com beijos sem precedentes; depara-se o homem com ela. E em prosa com seus botões, admite que tal mulher, de fato, difere-se de todas as outras empacotadas em seu sombrio passado, que esta é capaz de chamar a sua atenção numa facilidade bestial e o quanto o faz bem se aproximar ou mesmo ouvir seu timbre de voz. Sim, ele reconhece que as novas sensações correspondem justamente às razões de sua fuga, sua mente se recorda simultaneamente das feridas não-cicatrizadas e do sorriso reluzente transmitido por quem habita impertinentemente sua cabeça. Ele sabe o valor que custa cativar o amor, o mestre do imprevisível, mas ainda sim é capaz de abrir suas asas e alçar voo, sem discriminantes.         

quinta-feira, 31 de março de 2011

Insaciavelmente

     E mais uma vez, estou a escrever. O que faz de mim um vicioso ciclo, o que me mostra que quanto mais sou flagelado por uma dama cruel e sedutora, que mostra os dentes diante de lágrimas alheias, chamada vida, mais me refugio em anotações, que remetem a escuridão presente no meu interior. Escuridão tal, que ao encarar seus olhares, só me resta virar a folha para preencher seu verso, sangrar o papel com lamentações de quem implora misericórdia e salvação. De fato, confesso que papel e caneta se transfiguraram em  antídotos, sinto mastigar as palavras em minha boca,  sinto  seu efeito alucinógeno o qual me reporta à dimensões de um passado que nunca existiu; e quase sou resgatado por uma sensação de conforto. Vou escrevendo como se houvesse alguém do outro lado da linha, escutando minha voz embaraçada por raiva e dor entalados a tanto tempo, pacientemente me ouvindo por apenas compreender que expor os ferimentos do coração fazem bem para o espírito. E no alívio de ter atiçado fora a dor ao terminar com um ponto final, vão surgindo novos parágrafos distorcidos, vou dando espaço aos ecos que ressoam do abismo do meu coração, dando-me conta que transformei um final em um seguimento, e ponto. O real problema em mim é - creio eu - que em minha condição carnal, apenas sei escrever torto nas linhas certas, me falta um pouco de divindade para o contrário. Sigo tropeçando em palavras para acompanhar o acelerado ritmo do meu coração, me esbarro em uma multidão de sentimentos que caminham opostos ao meu trajeto e me perco a procura do remédio para sofrimento. E assim, vou retirando o pesado fardo do meu íntimo ao findar o texto, sabendo que mais tarde tornarei a caçar em vocábulos o antibiótico para minha salvação.  

domingo, 20 de março de 2011

Flashback

       Rebobinei centenas de vezes aquela cena, e cada vez que voltava-a, apreciava cada milissegundo. O brilho dos seus olhos ao refletirem a luz fraca que penetrava pela janela, num vaivém à procura de um encontro com os meus, sujeitos ao seu domínio. E insaciados, os pares de olhos em mim fitados se contentaram em atentar as palavras que saíam de minha boca. O seu perfume que, mais uma vez, adentrava impertinente em minhas narinas e invadiam meu corpo, atiçando-o para frente, encorajando-me a tocar seus longos cabelos para experimentar sua bebida. E sua atenção quase intimidadora em tudo o que eu dizia, que mesmo a deixar-me desconcertado, era capaz de massagear minha áurea, elevar meu espírito ao estado de graça. Mais uma vez rebobinei, e ri, ao me reportar a dificuldade de encará-la e não me sentir encantado. Cheguei a gravar minhas falas, as suas também. E a filmagem guardei com bastante cautela, no compartimento do meu coração dos dizeres “você”.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Em busca

    Embarcado estou nesta desconhecida peregrinação, por onde os dias contam como meses, e existem mais mil alguéns em outras embarcações a galgar meu objetivo, a comprometer meu futuro, para que não seja eu a erguer o troféu, mais tarde. E fica claro para mim que, pela primeira vez, não poderei contar com um suporte, flutuo sobre a água na  ansiosa esperança de alcançar a desejada terra, e mostram-me diante de meus olhos que  pioneiramente apenas eu serei capaz de quebrar os obstáculos, que dessa vez, mesmo que não queira, eu sou o dono do meu próprio destino, e a responsabilidade de morrer afogado está sobre minhas costas, e torna-se dolorosa a cada dia que passa. Cercado de água, e de longe deslumbrando o verde vivo pertencente à terra que me espera - o paraíso, diria – deixo o barco e estou a me movimentar bruscamente mar a fundo, e em direção à vegetação viva que a terra cerca. Sei também que todos os outros se atreveram a deixar o barco e nadar também, ouço o confuso ruído deles ao entrarem na água, concomitante aos meus movimentos. Sinto na pele que pertenço a corrida em que o primeiro a chegar será o grande proprietário e senhor de sua própria sina. E colidindo com braços e pernas de meus antagonistas, vai meu corpo dando o máximo de si a fim de alcançar objetivo tal, e vai também um coração tímido e uma mente cansada, ora tomados por ondas de baixa auto-estima, ora dando migalhas às remotas esperanças de um dia gritar que venci.    

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sétimo sentido

Sinestesia jamais será escrever sobre sentidos.
Sinestesia é falar por eles, é deixar que tomem posse
De nossas mãos ao pressionar a caneta,
E que transbordem no papel palavras
Que arriscam se aproximar do que realmente sentimos.
Uma verdadeira psicografia do coração.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Coma sentimentólico

Vou brindar mais um drink de mentiras
Embriagar-me dessa amarga ilusão.

Embebedar-me de palavras doces, límpidas,
Enobrecendo o meu pobre coração.

Sinto o seu gosto a corroer minha garganta,
Ácido fétido, podre, o qual me vicio,
Bebo mais um gole, seco a garrafa, apreensivo,
Induzo-me à tontura mais e mais.

Uma dose pra sentir o seu perfume,
A razão, perdeu em mim o seu sentido,
Vejo você, assobiando o meu hino,
De derrota, de labuta toda em vão.

Mais um drink! - suplico,
Esse efeito não permito passar.
Mais um drink! - me permito
De você, não cansarei de inebriar
Mais um drink! – cerco o copo,
E tenho a ti em minhas mãos,
Chega de drink! – encerro a conta,
E abraço forte a depressão.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sem poesia, acabou

Quando notei que as novas percepções saiam do meu controle,
O resgate tornou-se um ato em vão.
E por mais que lutasse, o martelo já havia sido batido sobre a mesa.
As suadas mãos que pressionavam os botões afrouxaram e
Notei que estava vencido. Perdi para mim mesmo.
Game over, sem direito a reset.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Ponteiro da vida

     Olhando para o teto, parei para pensar na vida em suas mínimas frações de tempo, e Concluí. Me impressiono em como um voltar da esquina, um piscar de olhares, um chegar mais tarde, uma declaração – não necessariamente amorosa, uma frase lida, uma não lida, uma palavra, uma interjeição, um indicador a puxar o gatilho, um toque, um tapa, um sussurro, um grunhido, um enrugar a testa, uma lágrima caída, uma lágrima enxugada,  um assentir com a cabeça, um pode ser ou mesmo um tanto faz... são capazes de transformar-nos completamente e guiar nosso destino para outros rumos. Mutáveis caminhos. Concluí. A vida muda mesmo entre o “tic” e o “tac”.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Salgado

     Senti quando a onda bateu estridente sobre meu corpo. Levou. Foi arrastando-o violento e eu deixei-me seduzir por seu temperamento. Por um instante, não sentira mais o banco de areia sob meu organismo, a onda chegara e estava me levando... para onde? Não me interessei, deixei levar. De longe vi o sol a dançar no reflexo da água, mesmo com a visão turva fui capaz de enxergá-lo. E flutuando fui sentindo a correnteza a atritar sobre minha epiderme, percebendo que não estava mais na posição anterior, que suavemente capotava oscilando cima a baixo, uma gostosa sensação, apesar da falta de oxigênio já causar um certo incômodo. E controlado como marionete, foi-se o corpo submerso, sem receio do provável encontro com rochas grandes ou pedras capazes de, numa simples pancada, causar sérios danos. Mas o prazer vinha de fora pra dentro, estava bom enquanto arremessado ainda mais. Mas como toda onda, ao chegar no alcançado destino, o regresso veio em seguida. O corpo encontrou novamente a macia areia, e a onda o lá deixou. Mas não simplesmente isso, levou uma parte dele, uma importante fração de seu íntimo foi levada pela correnteza, sem qualquer manifestação do organismo ali estirado. Por dentro senti a perda, mas não fui capaz de reagir. E o que restou sobre  sedimentos mornos foi um incompleto ser, ofegante, úmido, doído... e ainda assim, capaz de esperar  uma nova onda o removê-lo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Não me deixa dormir

     Dizem que primeiro amor a gente nunca esquece. O fato é que quase nunca o nosso primeiro amor continua a viver com a gente e está disposto(a) a passar o resto da vida do seu lado. Bom, esse não é bem o meu caso. Ela realmente vive comigo ainda e estamos dispostos sim a morrermos juntos, mas não como amantes. Nosso amor é diferente, é aquele que é peça chave na vida de qualquer um, é um amor que sem ele, ou sem senti-lo por perto, somos apenas metade, somos desamparados e nunca os mesmos. Nosso amor é o mais importante vínculo afetivo à não familiares: A amizade.
     Nesses anos, ela foi pra mim como aquele insistente inseto que tanto pertuba nossas noites, justo as noites em que queremos dormir. O inseto marca presença a todo momento e você está sentindo ele toda hora em seu ouvido, fazendo barulho. Mas você não dá tanta importância a ele, você quer dormir. Mas ele está no mesmo metro quadrado que você há um bom tempo. A presença do mosquito, apesar de insistente, torna-se inevitável. Mas você não move uma pálpebra para se dar ao trabalho de ao menos ver o que fazer com ele, ter o cuidado de levá-lo até a janela, ou mesmo dar fim àquele persistente ser vivo. De barriga para cima, de bruços, de um lado para o outro você se locomove, mas o inseto não descansa de bater suas asas! Finalmente você abre os olhos e resolve ligar a luz. Com a visão embaçada, olhos recém abertos incomodados com a luz, você se depara com o artrópode, apertando bem os olhos para enchergar melhor. "Meu Deus" sussurros que saem de sua boca ao admirar a beleza da magnífica libélula que escolheu seu quarto para passear. E você chega mais perto, quer apreciar os mínimos detalhes, quer conhecer melhor o animal,  de beleza tão esbelta que você sente vontade de admirá-lo pro resto da noite (ou da sua vida!). Daí já esquecemos completamente a possibilidade de descartá-lo, pelo contrário, quanto mais tempo para admirar a preciosidade melhor. E é assim que me obrigo a conviver com minha libélula, de alva alma e coração inocente, pessoa que tanto me arranca suspiros de admirações, o inseto-gente que desde que descobri sua beleza, fecho as janelas da minha casa e nunca mais eu abro mão.

Jéssica Freitas, amiga minha, do Jardim de infância ao Jardim da vida, ♥

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Temp(erament)o


Tempo que me cura,
Tempo que me fere,
Tempo quem o procura,
Com o tempo logo esquece.

Tempo que se aproxima,
Tempo que me ama,
Tempo que me odeia,
Tempo que me afama.

Tempo que me transfoma,
O tempo é um professor!
O tempo, ensina que o tempo,
É um verdadeiro sucessor.

Tempo que me mata,
Tempo que em mim nasce,
Tempo que em mim aflora,
Tempo que sorri, e que chora,
Tempo se falasse...

Tempo que aquece,
Tempo que esfria,
Tempo que ora traz noite,
Ora amanhece um novo dia.

Tempo que contempla,
Tempo transformador!
Tempo que o tempo dará,
Tempo que o tempo marcou.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Adoração em vocábulos

Sacramento esse diálogo,
Aprecio ao nos ver escrevendo.
Diz-me, "inebriante tu és",
Que te digo, mais que importante, estás sendo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Presente egípcio

     Uma mente precoce, a loira que está longe da ignorância. Uma ressalva ao pigmento dos seus fios, que ora oscilam à um ruivo/rosa de suas artes inovadoras e intrigantes, de fato. Uma alva pele, límpida, capaz de transparecer sua própria alma, tão delicada e reluzente quanto sua melanina. Um róseo formidável reveste sua desenhada e macia boca – sim, conheço sua maciez, ao provar do seu doce sabor ao pressioná-la em meus lábios. Tão delicados os lábios pertencentes à ela quanto um algodão recém removido da colheita, quanto um ser vivo que acaba de nascer, quanto seu próprio jeito de corar ao sentir-se envergonhada – jeito tal que, ao vê-lo, me apaixono mais e mais. E é mais que inevitável deixar de lembrar, e de tentar descrever o complexo e embaraçoso olhar que carrega essa alma inocente. Oblíquo e dissimulado, insisto em imitar Bentinho na descrição dos olhares de Capitu. Já os olhos desta Capitu não carregam tantos mistérios, pelo contrário, são determinados (até demais, às vezes). São olhos que dizem, que sentem, que ouvem, que estapeiam também. São tão vivos que parecem outro organismo, dentro desse conjunto de perfeições. Tão bem feitos, e um tanto ardentes que consigo enxergá-los nesse instante, nessa breve descrição. Atriz que é, ou brinca ser, consegue muito bem ocultar sentimentos, acostumada a não compartilhá-los e reservá-los junto com seus receios numa torre de mármore. Porém, essa tarefa torna-se cada vez mais difícil para si mesma, cada dia que passa consigo decifrar seus códigos, seus segredos, suas aspirações, e com eles vou me perdendo por entre as escadas da torre, e vou admirando mais a menina, minha menina que encontrou no jardim de sua casa a fórmula do amadurecimento, e que até então guarda-a consigo. E quanto a mim, resta apenas aparar a baba que escorre do meu rosto nos meus momentos de orgulho por ter encontrado um alguém tão especial quanto ela é. A sabedoria e a ingenuidade dialogam em seu interior, e por incrível que pareça estão sempre de mãos dadas. Francamente, nunca pensei em encontrar um dia uma pessoa dessa natureza, e agora tenho esse ser idealizado para chamar de amor.  Minha dádiva de Isis, quis a vida me presentear de forma tão boa? Venero pois essa obra egípcia, a qual meu coração fisgou e agora está difícil viver sem. Reconheço que já comentei de sua sapiência, mas não me canso de ressalvar o quanto admiro sua forma de pensar e de ser. Só espero que esse árduo e fádigo (de tanto carregar um forte sentimento) amor seja reconhecido por aquela da qual escrevo, e carregar a certeza de que mesmo que não seja eterno, se eternize enquanto dure.