quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Batendo ponto

Trancado no seu compartimento da repartição, ranzinza, resmungando até pela caneta que caíra, estava ele, e seu dia amanhecera preto e branco. Pilha de trabalhos, cobranças, contas, metas a cumprir, e à sua companhia um mau humor apuradíssimo. Mas a sina do amor – o acaso, talvez – soprou a persiana e a fez abrir um pouco mais. Mais do que isso, chamou sua atenção para fora da janela, para quem havia acabado de chegar. E ela carregava consigo toda cor, toda vida e todo brilho, e cada passo dado por ela iluminava ainda mais o corredor, abria um generoso sorriso - que só a ela pertence - para quem a cumprimentava, carregando o doce e conhecido perfume que o impulsionou até a porta para abri-la e o sentir. E de lá a fitou esperando o encontro dos olhos dela com os seus. Passando por ele, acolheu-o com um gentil  ” bom dia “, sem deixar de sorrir e seguiu seu caminho. Foi observada até entrar em seu respectivo escritório. Fechando a porta e  voltando para sua cadeira, tratou de pegar a caneta do chão e rir porque ela havia caído, rir porque tinha uma reunião em duas horas, rir porque devia ao açougueiro,  rir porque sua coluna latejava faziam quatro dias. Rir porque estava amando.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Parto

Germina o grão de mostarda,
Um lapso, um clarão,
Estrela da madrugada.
Morde o lápis, torce a boca,
Sua, apaga, escreve, afaga
O peito, tragando do papel o efeito
Opulente de versificar.