domingo, 24 de fevereiro de 2013

A margem


Memórias do nunca vivido
Presentes num lado sombrio
Do sóbrio desconhecido.

Na mente esquinas perdidas
São guias do até para o nada.
Meu trilho é a minha palavra
Vereda de rasas feridas.

Uma névoa atravessa Minh’ aura
Levando consigo os ponteiros.
O tempo sem marcas divaga:
Borrada a ordem dos feitos.

A alma se enleva sem forma
Na doutrina calada dos seres.
Se morrido e nascido outrora
São corpo e alma – irmãos siameses.

E dos retalhos, retratos tortos
De um novo atalho, flutuam
Rastros da eterna porfia.
Em tensão comigo vaga
O meu mosaico esguio
À deriva.




terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Fracasso


O poema selou seu silêncio.

Não atendeu meus clamores por teimosia
Ou por orgulho e capricho de poesia.

Gritei poema venha.
Disse-lhe ser remédio que me curo,
Chamei-lhe de escudeiro. Poema ouviu,
Lambeu a ferrugem do portão escuro
Que chamou de refeição de cativeiro.

Dei-lhe chave, papel,
Supliquei por respostas.
Poema riu com puro escárnio,
Deu-me dedo, língua, as costas.

Perguntei Poema então
Por que chamado se não sai
Por que melodia de
nenhuma música?

Poema nem sequer me olhou.
Manteve o silêncio.

Mantive
O corpo denso
De sede, dor e culpa
Desse nunca.