segunda-feira, 20 de maio de 2013

Predestino (ou) Calvário


Nos entreolhares
A sina da paixão consumada
Barrabás com o dedo no gatilho.

A via do pó, da seringa,
O desacerto na esquina
A lira da misericórdia
O desapelo cativo.

Eli, Eli, lama sabachthani?
Tetelestai.

O fadado disparo
Precede o antro
E entre os dois
Dissipa da bala
Um canto.

sábado, 18 de maio de 2013

Secreto


Numa vida cabem
Dez vidas ou mais.

O menino que chora
Por perder o brinquedo
E que dorme com a mãe
Pra passar pesadelo

Flagraram dormindo
Embriagado num quarto
Sujo de motel.

Ela conta estrelas sem apontar
Para não nascer verruga.
Ela fala com cuidado pra não
Deslizar a dentadura.

Em qual noite
Passou anjo perverso
E nos trocou coração cândido
Pelo inverso?

A alma guarda segredo
Quando nasce outro homem
E tantas vidas carregam
Mesmo nome.

No mesmo bolo de carne
Uma vida silencia
A morte da outra
Na espera do dia
Da última vida
Se calar.